domingo, 10 de agosto de 2008

Quanto quer pagar?

(publicado no overmundo)


O grupo de rock alternativo (como define alguns), Radiohead, teve início no fim dos anos 80, em Oxford, Inglaterra, originalmente sob o nome On A Friday. O nome Radiohead veio de uma música dos Talking Heads, uma das influências da banda, chamada "Radio Head".

Mas, na verdade, não estou aqui pra discutir o som desse grupo britânico e muito menos o valor deles dentro do “rock alternativo” internacional. Deixo isso para os especialistas de plantão. O que realmente chamou a atenção no último álbum lançado pela banda, In Rainbowns, 2007, foi a ousadia e a maneira de distribuição proposta, que é exatamente o título deste “texto ninja”, como diria Leminski. O que represente, talvez, uma grande revolução do próprio conceito de CD, foi tachado, por alguns, como mais um fulminante ataque à indústria fonográfica atual. E pode ter sido mesmo, principalmente por ter vindo de um grupo com um grande renome.

Logo ao entrar no site da banda já aparece um aviso de que o novo álbum da banda está, por enquanto, disponível somente no site. Logo mais, você descobre que pode fazer o download das músicas pagando qualquer valor entre 0 e 100 libras! Aí muitos perguntariam: e o disco? Ele pode ser adquirido, ainda pelo site, a partir de dezembro, porém aí, obviamente, com custo de envio e tudo mais.

O que está embutido nesta atitude radical, em sintonia com a produção independente que desponta no Brasil, é que, cada vez mais, os artistas estão se dando conta de que o esqueleto do esquema fonográfico montado durante praticamente todo o século XX começou a entrar em cheque a partir principalmente dos anos 90, sofrendo duros golpes ao longo deste início de milênio resultando em queda brusca das vendas e ausência de novidades, por exemplo, condenando o circuito a um abismo cíclico, espero, sem volta. Naturalmente é de se esperar que a tendência seja mesmo que artistas fora desse grande circuito ganhem mais espaço, e, de certa forma, já começamos a observar isso.

O site da BBC Brasil traz uma matéria com uma dura crítica a essa inovação. “Talvez a revolução digital tenha dado poder demais às bandas. Talvez o Radiohead precise de uma gravadora”. E realmente, a revolução digital tem dado cada vez mais “super poderes” às bandas e, se não fosse isso, hoje em dia provavelmente estaríamos experimentando uma constância musical generalizada, inclusive fora da grande indústria, pois o escoamento de toda ebulição cultural que se observa atualmente seria muito difícil. Os motivos da crise instaurada na grande indústria cultural são vários, e com certeza os pobres camelôs que vendem CDs piratas e o site do Radiohead estão longe de serem os principais responsáveis, como costumam apontar os órgãos oficiais.

A circulação rápida e globalizada de informação é inevitável e trouxe grandes avanços para vários setores da sociedade. Então porque esperar que artistas, mesmo das majors, fiquem de fora das maravilhas tecnológicas? Há muito tempo grandes artistas reclamam dos contratos e distribuição dos discos por parte das grandes gravadoras, essas sim, os grandes piratas que, digamos assim, acabaram cavando a própria cova. E mesmo elas já perceberam que a tendência é que a força do CD diminua, e o MP3 seja cada vez mais uma realidade. O cenário independente ou “alternativo” há muitos anos já é uma realidade (não precisa mais ser chamado de alternativo), inclusive no mercado, e essa nova maneira de distribuição proposta pelo Radiohead traz de bom uma forma simples de acesso com um recado muito claro às majors de que sua estrutura é cada vez menos atrativa aos novos artistas. Com toda certeza a banda não está preocupada com a discussão de que pode ser perigoso deixar o consumidor decidir o preço ou de quanto vale a arte. Vários grupos independentes já disponibilizaram seus discos totalmente pela Internet antes do Radiohead, mas a estratégia de marketing utilizada por esse grupo que com certeza já está na mídia é, sem dúvida, algo que merece destaque. E talvez eles até ganhem algum dinheiro com isso.

Essa maneira de distribuição, na minha modesta opinião, vai ao encontro com a toda nova produção musical que está sendo feita no Brasil, e também no resto do mundo. As gravadoras têm cada vez menos condições de manter sua enorme estrutura através de jabás e caros artistas, que, na maioria das vezes, não traz grandes inovações musicais. Sem entrar no mérito se este novo álbum do Radiohead é ou não uma obra prima, ele provavelmente será lembrado como um divisor de águas na distribuição pela Internet, a revolução digital, assim como o álbum Sargent Peppers dos Beatles é um marco do início da nova era de tecnologia de estúdio.

téo ruiz

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