domingo, 31 de agosto de 2008

Mais uma referência

Em diálogo com os posts do Domador e do Guilhermão eu passo aqui uma referência interessante que eu estou lendo no momento. É um livro que trata justamente da questão da cultura (no sentido mais amplo dessa palavra) se tornar, digamos, uma moeda de troca econômica e política no final do século XX e início desse.

O autor George Yúdice trata do que ocorre quando a arte e a cultura passam a ser consideradas domínios estratégicos ao se tornarem assuntos de interesse não só de empresas privadas ou de governos estatais como também de instituições como o Banco Mundial, o BID entre outros.

O nome do livro é "A conveniência da cultura - usos da cultura na era global" e foi lançado no Brasil pela Editora UFMG. Dêem uma olhada, pode ser interessante para esquentarmos as discussões "contra-industriais".

Rafael Azevedo

bares

então senhores.


entrei recentemente pra COMUM e queria botar um assunto na roda pra discussão, que acho que é algo importante pra qualquer projeto coletivo de uma cidade.

bh tem problemas crônicos de espaços para apresentações e distribuição de produtos culturais "contra-industriais". na verdade talvez não tenha, de fato, nenhum.
sabem que tenho ressalvas quanto ao fundamento que sustenta as leis de incentivo à cultura, isto é, a privatização das decisões e gestão sobre os gastos públicos em cultura. acho que elas atualmente são um mal necessário e que precisam ser usadas como um recurso, mas não vistas como prioridade ou uma fonte de renda estável e permanente para a classe artística. afinal, não somos funcionários públicos.

enfim... acho que minha sugestão inicial para qualquer movimentação coletiva de músicos em bh é a construção de uma estrutura de espaços independente de quaisquer apoios institucionais ou governamentais que, por si só, comercialmente, se sustente e gere um contexto em que os músicos se apresentem sempre e, aos poucos, fiquem mais próximos do público local.

todos sabem o quanto odiamos tocar em bares. eu mesmo tenho uma parceria com o makely sobre isso. mas temos que compreender que belo horizonte é a capital nacional dos bares. ninguém consome nada por aqui fora desse circuito. quem vai aos teatros é quem já conhece ou já frequenta um circuito muito específico. e se quisermos realmente ampliar de democratizar o acesso à nossa música, nunca imaginei repetir isso na vida, mas, vamos lá: "todo artista tem de ir aonde o povo está".

rarararara!!!

enfim... idéia pra se discutir.

abraço.

domador

domingo, 10 de agosto de 2008

Links interessantes

Outro dia, conversando com o Renato, falei que passaria uma série de indicações bibliográficas sobre tecnologia de gravação, indústria fonográfica, história da música prática ocidental, etc. Aqui vai então uma série de indicações que, de alguma maneira, nortearam a minha pesquisa de mestrado. Não sei se elas têm um cunho reflexivo pertinente ao assunto contra-indústria. Porém, é sempre bom ver como a indústria funciona ou funcionou. Ou ainda, entender e conhecer os possíveis caminhos que estão abertos ou por abrir. De qualquer forma, espero que seja interessante para todos...

História das tecnologias de gravação
http://history.sandiego.edu/gen/recording/notes.html

História do P.A.(Public Address)
http://www.historyofpa.co.uk/

Guia do Mercado Brasileiro da Música
http://www.guiadamusica.org/conteudo/default.php

História da Música Eletroacústica
http://www.music.psu.edu/Faculty%20Pages/Ballora/INART55/timeline.html#

Physical Audio Signal Processing
http://ccrma.stanford.edu/~jos/pasp/

Minha dissertação de mestrado: Cyberock
http://www.somba.com.br/cyberock.pdf

Digital Music Research - UK Roadmap
http://music.york.ac.uk/dmrn/roadmap/

Diversos programas freeware
http://ccrma.stanford.edu/planetccrma/software/roadmap.html

SMC
http://smcnetwork.org/roadmap/definition

Sérgio Freire (Prof. da UFMG - contém publicações diversas)
http://www.musica.ufmg.br/~sfreire/

Fernando Iazzetta (Prof. da USP)
http://www.eca.usp.br/prof/iazzetta/texto.html

Livros interessantes:

Autor: Michael Channan

Títulos:

Repeated Takes, A Short History of Recording and
its effect on Music 
Verso, 1995

Musica Practica: The Social Practice of Western Music from Gregorian Chant to Postmodernism
Verso, 1994

From Handel to Hendrix, The Composer in the Public Sphere

Verso, 1999

Quanto quer pagar?

(publicado no overmundo)


O grupo de rock alternativo (como define alguns), Radiohead, teve início no fim dos anos 80, em Oxford, Inglaterra, originalmente sob o nome On A Friday. O nome Radiohead veio de uma música dos Talking Heads, uma das influências da banda, chamada "Radio Head".

Mas, na verdade, não estou aqui pra discutir o som desse grupo britânico e muito menos o valor deles dentro do “rock alternativo” internacional. Deixo isso para os especialistas de plantão. O que realmente chamou a atenção no último álbum lançado pela banda, In Rainbowns, 2007, foi a ousadia e a maneira de distribuição proposta, que é exatamente o título deste “texto ninja”, como diria Leminski. O que represente, talvez, uma grande revolução do próprio conceito de CD, foi tachado, por alguns, como mais um fulminante ataque à indústria fonográfica atual. E pode ter sido mesmo, principalmente por ter vindo de um grupo com um grande renome.

Logo ao entrar no site da banda já aparece um aviso de que o novo álbum da banda está, por enquanto, disponível somente no site. Logo mais, você descobre que pode fazer o download das músicas pagando qualquer valor entre 0 e 100 libras! Aí muitos perguntariam: e o disco? Ele pode ser adquirido, ainda pelo site, a partir de dezembro, porém aí, obviamente, com custo de envio e tudo mais.

O que está embutido nesta atitude radical, em sintonia com a produção independente que desponta no Brasil, é que, cada vez mais, os artistas estão se dando conta de que o esqueleto do esquema fonográfico montado durante praticamente todo o século XX começou a entrar em cheque a partir principalmente dos anos 90, sofrendo duros golpes ao longo deste início de milênio resultando em queda brusca das vendas e ausência de novidades, por exemplo, condenando o circuito a um abismo cíclico, espero, sem volta. Naturalmente é de se esperar que a tendência seja mesmo que artistas fora desse grande circuito ganhem mais espaço, e, de certa forma, já começamos a observar isso.

O site da BBC Brasil traz uma matéria com uma dura crítica a essa inovação. “Talvez a revolução digital tenha dado poder demais às bandas. Talvez o Radiohead precise de uma gravadora”. E realmente, a revolução digital tem dado cada vez mais “super poderes” às bandas e, se não fosse isso, hoje em dia provavelmente estaríamos experimentando uma constância musical generalizada, inclusive fora da grande indústria, pois o escoamento de toda ebulição cultural que se observa atualmente seria muito difícil. Os motivos da crise instaurada na grande indústria cultural são vários, e com certeza os pobres camelôs que vendem CDs piratas e o site do Radiohead estão longe de serem os principais responsáveis, como costumam apontar os órgãos oficiais.

A circulação rápida e globalizada de informação é inevitável e trouxe grandes avanços para vários setores da sociedade. Então porque esperar que artistas, mesmo das majors, fiquem de fora das maravilhas tecnológicas? Há muito tempo grandes artistas reclamam dos contratos e distribuição dos discos por parte das grandes gravadoras, essas sim, os grandes piratas que, digamos assim, acabaram cavando a própria cova. E mesmo elas já perceberam que a tendência é que a força do CD diminua, e o MP3 seja cada vez mais uma realidade. O cenário independente ou “alternativo” há muitos anos já é uma realidade (não precisa mais ser chamado de alternativo), inclusive no mercado, e essa nova maneira de distribuição proposta pelo Radiohead traz de bom uma forma simples de acesso com um recado muito claro às majors de que sua estrutura é cada vez menos atrativa aos novos artistas. Com toda certeza a banda não está preocupada com a discussão de que pode ser perigoso deixar o consumidor decidir o preço ou de quanto vale a arte. Vários grupos independentes já disponibilizaram seus discos totalmente pela Internet antes do Radiohead, mas a estratégia de marketing utilizada por esse grupo que com certeza já está na mídia é, sem dúvida, algo que merece destaque. E talvez eles até ganhem algum dinheiro com isso.

Essa maneira de distribuição, na minha modesta opinião, vai ao encontro com a toda nova produção musical que está sendo feita no Brasil, e também no resto do mundo. As gravadoras têm cada vez menos condições de manter sua enorme estrutura através de jabás e caros artistas, que, na maioria das vezes, não traz grandes inovações musicais. Sem entrar no mérito se este novo álbum do Radiohead é ou não uma obra prima, ele provavelmente será lembrado como um divisor de águas na distribuição pela Internet, a revolução digital, assim como o álbum Sargent Peppers dos Beatles é um marco do início da nova era de tecnologia de estúdio.

téo ruiz

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

SEMINÁRIO DE EXPORTAÇÃO DE MÚSICA EM BELO HORIZONTE

Olá senhores.


Vai acontecer no dia 19 de agosto, terça-feira, o SEMINÁRIO e RODADA DE NEGÓCIOS de EXPORTAÇÃO DE MÚSICA. O evento é promovido pelo SEBRAE, BM&A (Brasil Music e Arts) e COMUM (cooperativa da música de minas). Fui selecionado para apresentar algumas canções para os gringos.

Acho que será uma boa oportunidade para avaliar os rumos das empreitadas e prioridades contra-industriais no meio empresarial e internacional. Compareçam. Liguem 3269-0180 e façam suas inscrições.


Domador.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

REVOLUÇÃO

sobre este espaço, lugar, sítio como poderia denominar o álvaro garcia...e sobre a contenda...embora ache inumeráveis as vantagens que obtivemos com o uso das novas tecnologias, como sempre duvido um pouco da avaliação que fazemos do benefício que obtemos delas no momento em que os usufruimos.mês passado, num debate com representantes de pontos de cultura em diamantina (organizado pela ufmg, com representantes da fábrica do futuro e do contato), várias pessoas se detiveram na tendência aparente de que as possibilidades de conexões virtuais encaminhavam pras reais. grupos que se conhecem em trabalhos com afinidades ideológicas (alguém ainda acha esse termo ultrapassado?) querem se conhecer e trabalhar conjuntamente, pessoalmente...como diriam meus amigos pernambucanos: pense numa capacidade de produção aumentada!!!? pense numa distribuição sem propriedade!!?ok, ok...óbvios e evidentes benefícios, pra citar apenas 2.mas quando perguntei a eles sobre as alterações que suas ações causaram no espaço arquitetônico e no uso dos espaços - principalmente os públicos - as respostas que ouvi me disseram que a reflexão e a história além da realidade virtual, das leis e dos patrocinadores e financiadores das novas produções culturais ainda caminha em velocidade mais lenta...só acho q devemos refletir mais sobre a complexidade dessas possibilidades. me interessa muito a chance de vermos o espaço público reconfigurado, e definido por novos proprietários. a mudança de vetor da determinação, independente até mesmo das instâncias de poder público.sem deixar de pensar também que quando essas "entidades" passam a ser "instituições", corremos o risco de perder a legitmidade das alterações possíveis.os pontos de cultura são - pra mim - uma grande possibilidade de reconfiguração desse entendimento e desses vetores.mas as associações que vem fazendo os que se destacam e ganham sobrevida me deixa instigado...acho q ainda não descobrimos uma maneira de sobreviver aos donos do mercado cultural que foi instaurado. ou pelo menos, ainda não sabemos caminhar mais rápido do que eles.apenas uma anotação, pra gente ir nessa toada, nessa conversa...abraços a todos...
dia 04 ou 05 devo ir a univ em Juiz de Fora fazer um painel sobre as possibilidades de produção audiovisual... espero ampliar a reflexao sobre as novas ferramentas e as estratégias de poder - no melhor sentido da palavra - que podemos obter delas.

A Passos Largos

O CD está com seus dias contados. Isso, na verdade, não é uma grande novidade. Diversas fontes mostram que a procura pelo produto está cada vez menor. Embora a queda brusca de vendas de CDs apontada pela Associação Brasileira de Produtores de Discos (leia-se grandes gravadoras) nos últimos anos tenha outros fatores, como, por exemplo, a grande crise do setor causada principalmente pelo alto custo de seu monopólio da mídia, realmente o futuro do CD parece mesmo ser virar artigo de colecionador. Ou quase.

Basta perguntar a si mesmo qual foi a última vez que foi a uma loja comprar um CD. Mesmo que tenha sido recente, esse hábito, com certeza, diminuiu e muito nos últimos anos. Pelo menos eu admito, faz muito tempo que não compro um disco. Mas nem por isso podemos dizer que o público esteja alheio às novidades, ou pouco interessado por música. A Internet está aí pra mostrar o contrário. Blogs sobre música se multiplicam, e cada vez mais artistas disponibilizam seus discos inteiros em diversos sites. Pelo menos os que não têm algum contrato que impeça isso.

Em meio a essa revolução digital, cabe uma grande reflexão sobre o tema. Será mesmo que o CD vai acabar? E o que virá em seu lugar? MP3?

Venho pensando bastante sobre isso ultimamente e creio que acontecerá algo um pouco diferente do que ocorreu com o vinil ou LP. Naquela ocasião, o CD veio mesmo pra substituir o saudoso “bolachão”, por vários motivos: durabilidade, praticidade (não precisa trocar de lado), qualidade digital, entre outros. E substituiu mesmo, tanto que em pouquíssimos anos praticamente todos os títulos eram produzidos exclusivamente em CD. Hoje, resta apenas uma fábrica de vinil na América Latina, destinada a prensagens limitadas de discos voltados, principalmente, a fãs assíduos desse ou daquele artista e colecionadores. Nessa revolução digital que ainda estamos vivendo, não existe, ainda, nenhum produto palpável para substituir o CD. O MP3 não passa de um simples arquivo, compactado, que fica dentro do computador, I-Pod ou MP3 Player. Para um público mais exigente, que ainda gosta de ter o álbum do artista em suas mãos, o MP3 não tem condições de substituir o CD, tanto pela qualidade inferior do som quanto pela ausência deste produto completo do artista, muitas vezes com um conceito embutido, trazendo imagens, entrevistas e outras informações no encarte, que pode ser também uma obra a parte ou complementar ao CD. Para esse público, que ainda não é pequeno, o MP3 passa a ser algo muito útil para ouvir músicas em casa no computador, no trabalho, conhecer coisas novas e usar no seu I-Pod enquanto realiza seu cooper matinal. Em outras palavras, substitui o velho discman, e não o CD.

Entretanto, o mercado de CDs deve continuar caindo. Inegavelmente, as gerações estão cada vez mais acostumadas a baixar músicas do e-Mule, por exemplo, e menos habituadas a comprar um CD. Essa diminuição no consumo de CDs terá, com certeza, um forte impacto nessa indústria, tanto para as grandes gravadoras quanto para os independentes. Porém, um mercado restrito de distribuição dos CDs deve continuar ainda por muito tempo para esses consumidores que fazem questão de ter O Álbum do artista, muito diferente do vinil que se restringe a colecionadores e românticos da “velha guarda” que não conseguem se desfazer de seu acervo. Eu me incluo nessa categoria.

Nisso pelo menos os independentes estão “na frente” das grandes gravadoras, digamos assim. Livres de contratos absurdos, alguns desses artistas já perceberam há tempos essa eficiente maneira de distribuição, e lançam seus discos na Internet, muitas vezes músicas inéditas e, inclusive, alguns grupos lançam seu “disco” somente na Internet. Não que as gravadoras não estejam atentas à essa revolução digital. Muito pelo contrário. Tanto que alguns altos executivos já chegaram a afirmar que, realmente, o CD está com seus dias contados do ponto de vista de mercado, e estão apostando em vendas separadas de músicas, por MP3, e até toques de celular. Porém, como grandes corporações, tudo precisa ser calculado e planejado exclusivamente para o lucro. Como os artistas independentes têm outras preocupações além dessa, acabaram enxergando essa vantagem interessante de colocar seus trabalhos na Internet.

Viva a Revolução Digital!!! Ou não???



Téo Ruiz, direto do overmundo

segunda-feira, 4 de agosto de 2008





(Fragmento de texto publicado originalmente em 29.06.08, no meu blog)

Ontem fui convidado a falar sobre a minha auto-produção poética, como um operário da contra-indústria, para os alunos do curso de pós-graduação em Comunicação da Universidade Franciscana aqui em Santa Maria-RS. Foi bacana. Isso me lembrou de um grato encontro que tive com dois desses operários e do que resultou disso.

O vídeo acima é da matéria que foi ao ar pela Rede Minas, em 2006, no lançamento do nº1 da Revista de Autofagia, em Belorizonte, editada pelos poetamigos Makely Ka e Bruno Brum.

Na matéria estão os editores, eu, Nicolas Behr e Luciana Tonelli. Foram três dias seguidos de eventos na cidade. Eu só pude ficar dois. Ótima recepção, gente boa e inteligente. BH foi uma surpresa agradável.


"Cavalo do Verbo"

porque desorganizando eu posso me organizar. porque me organizando eu posso desorganizar.

com a ref(v)erência de chico science e sua nação zapatista, convido aos zumbis que habitam os quilombos internéticos para integrarem o grupo de estudos e discussão sobre CONTRA-INDÚSTRIA, termo cunhado recentemente e frequentemente empregado em certas práticas de produção (contra)cultural contemporâneas. neste grupo não haverá hierarquia. todos podem postar, comentar, criticar e modificar as seções, links e textos disponíveis.

sugiro que criem um nick guerrilheiro para serem identificados por aqui. ele não precisa ser secreto. apenas representar uma identidade de combate e defesa de idéias.

quem aperta o gatilho primeiro?


resistentes saudações.
"domador de relâmpagos"