segunda-feira, 15 de setembro de 2008

o que é, afinal, contra-indústria?

Sinto que a discussão neste blog aqui anda meio parada.

Sntão vou propor aqui o debate sobre dois termos que foram criados em contraposição a outros, usados anteriormente, e que careciam de demarcações teóricas claras.

O termo "indústria cultural" foi criado por Theodor Adorno, um dos principais filósofos ligados à Escola de Frankfurt (também conhecida como Escola Crítica), e diz respeito ao conjunto de produtos e manifestações geradas através dos mass media e das estruturas técnicas, burocráticas e comerciais capitalistas, no início do desenvolvimento da época da reprodutibilidade técnica da arte (idéia desenvolvida por Walter Benjamim, também da mesma escola), como alternativa ao termo "Cultura de Massas", desenvolvido pelos americanos.

Indústria Cultural surgiu como um termo que aponta para a percepção de que a cultura "midiática" não pode ser propriamente considerada uma cultura DE massas, já que é, desde seu início, marcada por um sistema quase totalmente unidirecional, com uma grande desiguldade entre emissores e receptores, limitando bastante, dessa forma, a idéia de interlocução.

atualmente o conceito merece uma revisão, obviamente. o desenvolvimento dos meios técnicos, o surgimento da internet - um meio estruturalmente aberto e anárquico de troca de informações - e a globalização nos forçam a refinar melhor este conceito, embora não seja ainda pertinente abandoná-lo.

Já o "Contra-Indústria", proposto pelo poeta e articulador cultural Makely Ka e reforçado por vários outros ativistas do mercado musical contemporâneo, claramente derivado do conceito adorniano e também do termo "contra-cultura", que se refere ao conjunto de manifestações culturais que questionam de alguma forma as bases estruturais de um sistema de produção, distribuição e consumo estabelecidos, vem, por sua vez, como alternativa ao termpo "independente". Mas quais seriam exatamente seus pressupostos teóricos? Em qual paradigma está inserido? Quais são exatamente os pontos que questiona e propõe alternativas da chamada "música independente".

Talvez a própria palavra "independente", pela percepção de que a dependência não existe apenas no mercado oficial das gravadoras, em que os artistas dependem de uma série de decisões empresarias sobre a produção, distribuição e promoção de seus trabalhos. a dependência, por exemplo, no mercado musical mineiro, da maioria dos músicos profissionais em relação aos mecanismos das Leis de Incentivo à Cultura, e, consequentemente, a empresas patrocinadoras e os escritórios de produção a eles ligados. A diferença, na prática, é que o modelo atual é apenas mais neoliberal e econômico para os investidores, que têm boa parte dos impostos que fatalmente seriam investidos em cultura via impostos liberados para repasses "diretos" para os projetos patrocinados, ou seja, de produto à venda no mercado, a música passa a ser interpretada como instrumento de propaganda para quaisquer outros produtos: serviços de telefonia, produtos de beleza, siderurgia...

Não seria esta uma dependência ainda mais grave, já que o público consumidor final de produtos culturais já não têm acesso direto à escolha dos produtos, por estes dependerem de suas funcionalidades como peças publicitárias?

Pois bem... se o nascimento de "contra-indústria" existe para questionar a falsa "independência" da classe musical em sua rotina de trabalho, também deve produzir questionamentos sobre a superação dos mecanismos das estruturas que os mantêm, ou seja, os mecanismos da indústria cultural.


a discussão está aberta.
um abraço.